Fundador

DARIO VELLOZO

 

dariovellozo_inp

 

 

De DARIO NOGUEIRA DOS SANTOS (Apolonio de Tyana IIº) A DARIO VELLOZO (Apolonio de Tyana) Do I.N.P. Curitiba – Paraná (26 – Agosto – 1949)

 

Homenagem prestada pelo “Centro de Letras do Paraná“, ao sócio fundador Dario Persiano de Castro Vellozo, em 26 de agosto de 1949, pelo Prof. Dario Nogueira dos Santos, orador do Centro de Letras, na ocasião.

 

 

Foi pela primavera de 28 de setembro de 1937, às 18,00 horas, hora Vergiliana, quando duas tormentas se fizeram sentir – uma provocada pela convulsão dos estados físicos da atmosfera e outra pela emoção profunda que se apossou da “Cidade Sorriso” à divulgação da notícia da partida para as crótonas do céu, do grande idealista, mestre, filósofo, orador, poeta simbolista, apóstolo da renúncia, essencialista, historiador, maçom eminente, iniciado martinista, humanista convicto, e, talvez dos helenistas um dos últimos verdadeiramente pitagórico, Dario Persiano de Castro Vellozo.

Nascido no Retiro Saudoso, bairro de São Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro, em 26 de novembro de 1869, veio para Curitiba aos dezesseis anos apenas, pelo ano de 1885, fazendo-se aluno do “Partenon Paranaense” e depois “Instituto Paranaense”. Foi amanuense de polícia, empregado da Secretaria da Fazenda e finalmente lente de História do Ginásio e Escola Normal de Curitiba. Foram seus pais, Dª. Zulmira Mariana Dias de Castro, de antiga família carioca e Ciro Persiano de Almeida Vellozo, baiano, Oficial da Armada, tendo servido na Guerra do Paraguai. Dario Vellozo guardava como preciosa relíquia, a bandeira com que o vaso de guerra “Parnaíba” desceu o rio Paraguai e deu fundo na baía de Guanabara. Seu pai fazia parte da guarnição do referido vaso de guerra. Tito Vellozo, irmão de Dario, possuía o “Passador de Prata nº 2”. A vida colegial de Dario Vellozo começou na escola particular de São Cristóvão, regida pela professora Dª. Hermínia, perfil inolvidável a Dario. Os estudos secundários, iniciou-os no mesmo Liceu de São Cristóvão, sob a direção do professor Dias, continuando-os mais tarde, nesta Capital, em 1887, no Instituto Paranaense. Nunca freqüentou escolas superiores e nunca ocupou cargos políticos. Foi também redator de debates do Congresso Paranaense.

Foi lente catedrático por concurso da Cadeira de História Universal, exercendo-a de 1898 a 1930, quando requereu e obteve disponibilidade. As atividades literárias do mestre começaram entre 1885 e 1889, quando fundou “O Mosqueteiro”. De 1883 a 1884, trabalhou no Rio de Janeiro, como aprendiz de encadernador, na casa Lombaerts & Cia., à rua dos Ourives nº 7. Exerceu também o cargo de tipógrafo-compositor, na casa Moreira Máximo & Cia. à rua da Quitanda, de 1884 a 1885. Antes de vir do Rio tentou ainda matrícula na Escola Naval, não o conseguindo “por falta de ordem ministerial”. – O pai transfere-se, com os filhos, para Curitiba, Estado do Paraná. Chegam a 4 de agosto de 1885. Dirá Dario, referindo-se a si mesmo : “Partiu. O Paraná acolheu-o. E amou o Paraná com o afeto agradecido de quem encontra um ninho à psique nômade e sofredora”. – Vai trabalhar como tipógrafo, na oficina do jornal Dezenove de Dezembro. Trava amizade com Lycio de Carvalho que também trabalhava como compositor-tipógrafo. Despretensiosa simpatia os uniu. Mário Tourinho e Júlio Teodorico, – o Atos e o D’Artagnan da roda que se estabeleceu entre os quatro formando o cenáculo e o superno culto de amizade. Tito Vellozo, irmão amantíssimo de Dario era o Bragellone da roda. O romance de Dumas – os Três Mosqueteiros, – delineou o edifício da grande amizade. Na efervescência da campanha republicana, em 1889, redigiu “A Idéia”, órgão propagandista dos estudantes. Foi diretor da revista “Clube Curitibano” de 1890 a 1901. Fundou com Júlio Perneta e António Braga, a “Revista Azul” que foi suspensa com a revolta da esquadra em 1893, surgindo “O Cenáculo”, revista que se fez conhecida no país e teve a colaboração de Rocha Pombo, Carvalho de Mendonça, Albino Silva e outros grandes vultos das letras nacionais, no decorrer dos anos de 1895 a 1897. De 1898 a 1902 colaborou na revista “Jerusalém” da Loja Maçônica Fraternidade Paranaense. Redigiu “A Esfinge” que fundou para propagação de estudos esotéricos e ciências ocultas, de 1899 a 1908. De 1909 a 1912 fundou e redigiu o “Ramo de Acácia” para propaganda e dedicação ao Pitagorismo e Teosofia. Também fundou “Pátria e Lar” publicada de 1912 a 1913, dedicada a estudos de sociologia. De 1916 a 1920 circulou “Mirto e Acácia” que fundou para divulgação de estudos iniciáticos. Em 1918 surge sua revista “Brasil Cívico” como fator de reeducação nacional, com duração de um ano. De 1920 a 1927 circulam suas revistas “Pitágoras” e “Luz de Crótona” dedicadas a Teosofia, Maçonaria e Pitagorismo. Com Alves de Farias, apresentou em 1930 a “Lâmpada”, órgão do INP que até hoje circula graças à dedicação imperecível de Rozala Garzuze, nosso Parmênides – o Antigo do INP. Não foi somente na imprensa que sua tarefa intelectual foi extensa e valiosa, porque sua atividade bibliográfica, nitidamente doutrinária, se avoluma demonstrando as mais elevadas concepções filosóficas que antecedem de duzentos anos à época em que viveu, porque seus trabalhos documentam todos os anos de sua maravilhosa atividade, de sua exuberante personalidade onde predominava o poeta simbolista em todas as suas manifestações rimadas ou não. Suas principais obras são: — “Primeiros ensaios”, contos; “Efêmeras”, versos; “Esquifes”, contos; “Alma Penitente”, poema espiritualista; “Altair”, contos esotéricos; “Templo Maçônico”, “Esotéricas”, versos; “Lições de História”, “Compêndio de Pedagogia”; “No sólio do amanhã”, romance; “Voltaire”, polêmica; “Moral dos Jesuítas”, polêmica; “Helicon”, versos; “Ramo de Ouro”, doutrina pitagórica; “Pelo aborígene”, com Júlio Perneta; “Rudel”, poema; “A cabana Felah”, conto; “Da tribuna e da imprensa”, estudos; “Da terapêutica oculta”, estudos; “Four L’Humanite”, tradução francesa de Phileas Lebesque; “Mansão dos amigos”, novela pitagórica; “O Habitat e a integridade nacional”, tese ao 69 Congresso de Geografia, apresentado em Belo Horizonte; “Símbolos e miragens”, contos; “Horto de Lísis”, estudos pitagóricos; “Os cavaleiros da távola redonda”, tradução do francês; ” “No limiar da paz”, estudo inter-americano; “A trança loura”, romance; “Cinerários”, versos; “Atlântida”, poema, obra máxima do mestre; “Encantadas”, romance; “Psiques e flauta rústica”; “Jesus pitagórico”, “Fogo sagrado”; “Terra das araucárias”, em colaboração com Gustavo de Medeiros Pontes. Muitos de seus livros foram editados pela biblioteca do INP, no interesse de divulgar todas as obras do Antigo, Apolônio de Tyana, seu fundador e talvez o último dos pitagóricos verdadeiramente sinceros. Dario Vellozo foi muitas vezes delegado de organizações culturais, ordens e embaixadas em congressos e assembléias, tais como: – Congresso do livre pensamento e maçônico, em Buenos Aires em 1906; 3º e 4º Congressos de Geografia e História, em Curitiba e Belo Horizonte, representando o Paraná em 1919; Congressos Maçônicos no Rio em 1904 e 1906. Fundou muitas Instituições, tais como: — Centro Esotérico “Luz Invisível”, Loja Maçônica do mesmo nome; Instituto Neo-Pitagórico; Escola Brasil Cívico em Rio Negro, Loja Teosófica Nova Crótona; Curso de filosofia particular e gratuito e sua tarefa de lecionar prolongou-se por espaço de 46 anos ininterruptos. Eis a vida laboriosa do mestre que emancipou a mocidade paranaense, voltando-a para a liberdade de consciência, dando azas ao pensamento, afastando-a do sectarismo improdutivo que, quadriculou tantas inteligências. Para os pensadores, para os que ainda não foram abatidos em seus vôos condoreiros pelos dogmas, a obra do grande pitagórico revela sua personalidade como sendo uma das mais vigorosas de seu tempo. Com as vistas voltadas sempre para a unidade da criação, Dario adorava a essência das coisas, qual verdade absoluta e assim escreveu : “A Essência é imutável; não evolve, porque perfeita”. “A Essência é indestrutível, mas, substancial, pode ser dissolvida”. “Na eternidade era Essência. Era Essência vibrando, fez-se Substância, imponderável e ponderável, perpetuou-se sob dois aspectos, Força e Matéria. Força e Matéria são polarizações da substância; na Substância está a Essência”. Dario foi o .temperamento sensitivo mais emotivo que encontrei na vida. Em 1912 me fiz seu aluno e tornei-me discípulo, desde então nunca mais me afastei do mestre e amigo. Acompanhei-o sempre, embeveci-me sempre ao auscultar seus grandes ideais espiritualistas, as manifestações de seus sonhos nos entusiasmantes momentos de suas lições e palestras, verdadeiros banhos de esperança superna que em suas vibrações, anímicas extasiavam a todos, nos mais gratos instantes de convívio com o mestre e amigo. Fosse ou não um mestre paranóico de idealismo, tão acima do mundo material, fosse tão subjetivo, por vezes, que importava isso, quando a emoção em torno do ideal sonhado caísse como o orvalho da madrugada, dando novas clorofilações às vidas crestadas aos corações amargurados, às almas errantes. Quantas vezes, quantas, de esquecimento da vida objetiva e fátua, com alma e coração evolvidos para o empírico, como se librando na amplitude do infinito, absorvendo o nectário das nebulosas. O mestre de história sentia perfeitamente as suas próprias aulas, empolgado pêlos gestos dignificantes dos filósofos e dos sábios, dos grandes iniciadores da humanidade e suas aulas se faziam orações poéticas e evangelizadoras. Personalidades consagradas através dos tempos como marcos da evolução, surgiam como se fossem gladiadores astrais encarregados da purificação das almas dormentes e seus alunos acordavam dum sonho do passado que já ia longe, para se ambientarem num presente rutilante e antegozarem um futuro promissor e radioso. Era bem assim a influência de suas aulas e assim, enlevados estávamos quando o velho e bondoso Bardal anunciava: – “Está na hora!”. Havíamos de fato esquecido o corpo físico sobre a carteira e logo em seguida o aborrecimento de parar de ouvir o mestre até sua próxima aula. Os que foram seus alunos como eu, reconhecem que não exagero, porque sentiam a mesma emoção ouvindo as palavras do mestre-poeta. Escreve Tasso da Silveira: – “Dario é também poeta, mas acima de tudo é um apóstolo, por temperamento e por vontade. Jamais vi mais alta faculdade de fazer proselitismo. Sua ação de presença é dominante. Uma vez presos à magia de sua “saudade da Grécia”, à inflexão doce e modulada de sua palavra evocativa, ao império de seu desejo soberano, de empolgar os espíritos, dificilmente saberemos manter o dom de análise fria e fugir à sugestão”. Foi mestre por excelência, foi poeta até expondo os pontos de sua cátedra, foi esteta ajoelhado sempre diante da natureza, foi simbolista, porque todo sonhador inveterado será sempre assim. A linguagem nua se a roupagem do simbolismo e como um corpo sem alma, muito adequada às didáticas áridas das ciências positivas, mas, nunca para alimentar os sonhos dos idealistas, dos que desejam fugir dos grilhões das trivialidades materiais, para divagar nos paramos da luz, onde as fantasias evocam esvoaçam, mas, onde será possível, pelas asas do sonho, sonhar também. Dario era profundamente religioso, evocativo, emotivo, e, o Deus de sua adoração não admitia forma, lei, cor ou preconceito. Era um Deus de Liberdade e de Amor onisciente, onipotente, onividente e onipresente. A sua norma, o seu sonho, a sua escola, o seu ideal; estavam concretizados nos versos de ouro de Pitágoras. Foi por isso que sua saudade da Grécia o fez criá-la em miniatura, em pleno século XX, fundando no Retiro Saudoso em bosque verdejante, nó seu “Horto de Lísis”, no Templo das Musas, o templo magnífico que se ostenta em pronáus de colunas dóricas, atestando o ideal do mestre, o seu máximo ideal. Quem de minha geração ou de geração anterior poderá esquecer, uma festa de primavera, no passeio público, na ilha da ilusão, quando o mestre imaginou uma descida do Olimpo, e a festa das musas veio reconstituir um passado helênico da Grécia heróica. Quem esquecerá o mestre Dario, qual gladiador astral, com o florete da imaginação que chegava a ferir a si próprio, submetido à ironia dos que o pretendiam levar ao ridículo, porque não estariam na altura de julgá-lo, toda sinceridade que ditava seus gestos de grande paranóico do ideal, que desejou tão ardentemente, para os nossos dias, um mundo, daqui a duzentos anos. Na personalidade de Dario, o empolgava o Bem, o Belo e o Verdadeiro do espírito helênico, das horas alegres ou tristes da Hélade, cuja história heróica o arrebatava, no culto da beleza, da filosofia, na adoração da Essência, através do simbolismo Deista, das lendas de seus heróis, chegando a clamar essa adoração, nas seguintes expressões: – “O Brasil será a Grécia da humanidade futura, possa ser Curitiba a sua Atenas”. Exalta seu extro magnífico, manifesta em plenitude na sua obra máxima – “Atlântida”: – “A Grécia é luz, lira de Orfeu, mirto de Eleuzis: Inspira o amor e a paz, o riso alado e a crença, no sereno fulgir das Psiques e dos Deuses”. No caminho da senda iniciática, o venerável mestre, viveu a Grécia de Orfeu, em plena Curitiba quê tanto amou. Criou o I.N.P. para realizar o sonho registrado no seguintes versos: – “Flameja ! Ensina o Olimpo aos pigmeus modernos… Aos homens de saber o teu saber – Ó Palas, Transmite ! Anacreonte, o teu ouro e o teu vinho verte ! E verte o luar de teus raios eternos Phebe! de olhos de argento e serenas opalas !” Aqui mesmo na cidade sorriso, Dario pregou a Renúncia Budista, a Amizade Pitagórica, o Dever Socrático, o Amor Cristão, a Vontade Apolínia e a Paz iniciática. Sempre fiel a seus princípios, Dario morreu, como os grandes homens que fecham os olhos das órbitas, mas, nas suas obras vivem depois deles, suas almas resplendendo o potencial de erudição que registraram, em auroreais fulgurações, como sarças de luz cintilantes, que continuam espargindo aromas de misticismo embriagador. Dario sofreu como filósofo a dor do mundo, porque desejava vê-lo envolto em gazes dos esponsais supernos, vê-lo irisado em egrégora de fraterno amor, vê-lo mergulhado todo na Bemaventurança eterna do Nirvana. A argila deste mundo não pesará sobre ele, porque sua alma luminosa, sua mente pujante, seu coração bonançoso, sob qualquer aspecto, perpetuados serão. Seu idealismo magnificente e sugestivo salvaguardou muitos seres que despertaram para a vida subjetiva. As revoadas de sonhos lindos de mestre e amigo, as palavras candentes de tribuno e poeta, unificadas, consagradas às emancipações evolutivas, seguirão o destino preparado pelo sacerdócio que desempenhou neste planeta expiatório, onde a linguagem cármica é ouvida. São lições que ficaram para todos que têm o cérebro e o coração acima do ventre. Mestre, sempre na vanguarda dos tempos, ora incompreendido, ora mal visto pelo obscurantismo, foi, entretanto sempre respeitado, pela própria erudição que se impunha, pela sinceridade aos ideais supernos e pela eloqüência de tribuno eleito e consagrado e de humanista convicto. Respeitado pelo fulgor intelectual, pela franqueza de atitudes, pela impulsividade de pensador intemerato, foi sempre vitorioso em suas polemicas, em seus duelos de gladiador astral, de Martinista que lutava pela paz iniciática. Dario transpôs as fronteiras da pátria, porque seus ideais sublimes cabiam em todas as Pátrias, declarou-se cidadão do universo, ganhou o lugar merecido no coração da humanidade que para o futuro com mais eloqüência ainda glorificará o seu nome. Quando o nosso homenageado morreu, houve alguém que escreveu : – “Foi por isso funda a emoção da passagem ontem, através da Capital, do carro de terceira classe levando num caixão de pinho, tosco, amortalhado no linho branco, o homem mais vestido de luz, de Curitiba”. Foi para satisfazer a última vontade de Dario que, o funeral, foi o mais modesto possível e passou à frente das casas onde o grande morto havia residido. Seus ilustres filhos, Portos, Iliam, Alcione, Valmiki, Atos e Lísis acompanharam todo trajeto do funeral e transportaram o ataúde do carro mortuário ao túmulo. Seguiram-se orações fúnebres, todas repassadas de muita emoção e saudade. Falaram: – Raul Gomes que representou este Centro e a Academia de Letras; Juvencio Mendes, em nome do I.N.P.; Algacir Mader, pelo Ginásio e Escola Normal; Veríssimo de Souza e o Capitão Vieira Cavalcanti, pela Maçonaria; Atos Vellozo , filho do mestre, com a voz embargada, ao colocar uma coroa de louros sobre o caixão, disse apenas: – “Pai, amigo e mestre! Fiel aos ensinamentos pitagóricos, foste sempre bom filho, reto irmão, terno esposo e bom pai, e para amigo escolhia sempre o amigo da virtude. Do I.N.P. de que eras o fundador e Antigo, mereces esta coroa. Ei-la”. O Governador Manoel Ribas, decretou luto oficial, se fez representar nas exéquias, bem como o governo federal e o municipal, o mundo oficial e as mais expressivas sociedades literárias e artísticas do Paraná. Ao lado de seus ilustres e inteligentes filhos, viveu por alguns anos ainda, sua respeitável companheira, dedicada e boa, D. Escolástica Morais de Castro Vellozo, e, seu idolatrado esposo está com seus restos mortais, ao lado de Lisis, Alir e Azilê, em cova rasa, na mais comovente interpretação de simplicidade. Por certo aos primeiros raios primaveris, o sol despertará em florações magníficas os matises variados e os odores ao pé da cova, representarão sempre, nossa saudade, nossa admiração e nosso acrizolado respeito e admiração. Semanas antes do falecimento do mestre, como amigo íntimo, visitei-o, pois residia eu em Paranaguá. Prenúncios perigosos anunciavam a campanha Nipo-Nazi-Fascista e Dario próximo dos derradeiros dias, com a dispnéia provocada pelo edema pulmonar que o vitimou, voz embargada por vezes, sensibilidade pronunciada que já o fazia derramar lágrimas diante dos amigos, mesmo assim, arrancava ele, de dentro de si, protestos de revolta que me faziam reconhecer a sua mesma chama ardente de seu temperamento impulsivo e por vezes arrebatado ao delírio do idealismo que o fazia almejar ao mundo um estado de bemaventurança, pela realização dos princípios que sempre esposou, como maçom eminente, pela divisa – Liberdade – Igualdade e Fraternidade.

Para finalizar esta ligeira biografia póstuma, neste solene momento em que o Centro de Letras, coloca a sua fotografia na galeria da saudade, passarei a ler meu artigo de despedida que escrevi na revista “A Marinha” da qual era seu redator.

Otimista! desejaste ao mundo auroras regeneradoras. Filantropo! repartiste teu coração com os humildes. Pacifista! desejaste ver o mundo desarmado. Espiritualista! aos Deuses imortais oraste. Proclamaste a Paz, anseios para a vida. Inculcaste a Liberdade, qual asa do pensamento humano. Pregaste o Bem, o Belo e o Verdadeiro; manifestações da imortalidade. Culto sacrossanto à amizade, rendeste. Teus anseios sempre venceram o ceticismo. Foste um crente; místico ardoroso. Deista misericordioso. Não acreditaste na morte, mas, adoraste a vida. Chegaste ao fim de tua vida terrena, orando e amando. Mas, não querias ainda partir. Querias teus familiares e teus amigos. Contigo, leva-los-ia em pensamento. Contigo talvez levastes a tua humanidade, motivo principal de teus cuidados e de tua misericórdia. Teu coração de filantropo, parou de pulsar, mas, deixaste-o dividido com tua humanidade que ficou.