Dos Versos de Ouro[1]
Dario Vellozo
Em cerca de 77 versos disse Lysis o código moral dos Pitagóricos. É a moral adotada a todas as épocas, a todos os povos, a todos os humanos. Traça a conduta, eleva o espírito, enobrece a alma, ameiga o coração, o Estável e o Instável equilibrados na Harmonia perfeita do Macrocosmos e do Microcosmos ao eclosionar da tolerância, da bondade, do dever, do carinho, da virtude, do bem, para a Verdade, do carinho para a Justiça !
Constituem, na encantadora simplicidade de suas linhas, poderoso fator iniciático, excelente meio de acesso aos Planos – superiores da Vida.
Quem os leia e pratique, verá ruir preconceitos hostilizantes. Seus ensinamentos congregam os seres, qualquer que seja a raça, o país, a crença. Sintetizam as aspirações filantrópicas dos Grandes Iniciadores, dos Epoptas dos ciclos históricos.
Cada frase é preceito, admirável e profundo. Explicá-los, daria volumes, – cada preceito a epígrafe de um capítulo.
Traduziram-nos sob a rubrica de Versos Dourados ou de Versos de Ouro, ou Versos Áureos.
Comentou-os Hiérocles, em trechos eruditos; Fabre D’Olivet examinou-os, explicando-os, precedidos de um discurso a respeito da Essência e da forma da Poesia; Luiz Antonio de Azevedo consagrou-lhes ponderadas páginas.
Os Pitagóricos diziam-os e os meditavam pela manhã e à noite. Após meditação, exame de consciência, no silencio e soledade do bosque ou alcova. Se algo diziam ou praticavam de reprovável, tratavam para logo de corrigir a falta, quanto possível.
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Nos deuses Imortais reconheciam símbolos da Essência …… Tolerantes para com a crença de outrem, cultivavam a própria, conscientemente. Prestigiavam a lembrança dos Heróis, a memória dos Supernos Espíritos, pois sabiam desfrutar dos benefícios esparsos pelas gerações anteriores, sendo os vivos, sempre e cada vez mais, governados pelos mortos. …
Era o Pitagórico: bom filho, reto irmão, terno esposo e bom pai; escolhia para amigo o amigo da virtude. Procurava seguir-lhes os exemplos e os conselhos, ser sincero e bondoso. Compreendia a relativa dependência entre os seres e as coisas.
O domínio próprio, pela ação da vontade, tornava-o vitorioso das loucas paixões, sóbrio, ativo e casto. Evitava as cóleras. Em público ou sozinho, não se permitia nunca o mal; tinha o respeito de si mesmo, juiz a Consciência. Dominava-o o sentimento da Justiça; não falava ou agia, sem examinar previamente qual o efeito de suas palavras, de seu ato.
A morte se lhe apresentava natural, infalível; não a temia, não o preocupava. Suportava os males com serenidade, fazendo por suavizá-los. Não se rebelava contra os Destinos, indiferente à fortuna e às harmonias fáceis caprichosas e efêmeras. Observara que o Destino se afigura mais cruel ao ignorante que ao sábio.
Homens há que adoram o Erro, como outros a Verdade. A violência é inútil nociva: não convence. O filósofo aprova ou adverte com doçura; e, se o Erro triunfa, afasta-se, espera o momento propício à elucidação da verdade. Inútil querer ver o cego o que se lhe apresenta. Para que o cego possa ver necessário primeiro dar vista ao cego.
Toda a prevenção é nociva. Mais vale falar à generosidade do coração que à mente egoística.
Evitar o exemplo de outrem; pensa, consulta, delibera, escolhe livremente.
Só os loucos agem sem causa, necessário meditar nas conseqüências dos atos.
Só quem se não preza e não preza o bem alheio mete-se a fazer o que não sabe.
Ao tempo e à perseverança tudo cede.
Indispensável cuidar da saúde, já alimentando metodicamente o corpo, já facultando ao espírito notável repouso. Nem preocupações excessivas, nem ausência de salutares labores; todo o extremo é funesto. Nem luxo, nem avareza.
O estado, a meditação, o conhecimento devam à prática das Virtudes.
O Pitagórico inquiria a causa dos fenômenos a fim de surpreender-lhes as leis; sondava dos seres a essência, a fim de conhecê-los, de saber-lhes a índole, as tendências.
Compreendia que a Natureza é uma. Não suplicava a misericórdia dos Deuses; contava apenas com as próprias forças. Procurava discernir o Erro, atingir a Verdade.
A ignorância infelicita os homens, joguetes das paixões, impelidos de uma à outra margem da vida, pela hipocrisia e perfídia dos maus, buscando alhures os bens cujas fontes em si trazem.
O coração do Pitagórico emancipava-se dos sãos desejos, superior a interesses subalternos. Era sábio e ditoso.
Dotado de faculdade intuitiva que desenvolvera com método, abstinha-se do nocivo, os instintos dominados pela Inteligência.
Útil aos seres e às coisas, pela prática das virtudes atingia o Eiter, imortalizava-se.
Dividiu Lysis os Versos de Ouro em partes: Preparação, Purificação, Perfeição…
O I.N.P. reúne ao Ternário, mais uma unidade, e o Quaternário surge, para a Realização, delineada nos Estatutos.
DARIO VELLOZO
[1] Artigo publicado na Gazeta do Povo – Coluna Dórica – em 29 de dezembro de 1923